sexta-feira, 28 de maio de 2010

O BRINCAR DO BEBÊ: UMA ARTICULAÇÃO ENTRE A PSICANÁLISE E A TEORIA PIAGETIANA

O brincar, sem sombra de dúvida é um fator determinante como subsídio para o desenvolvimento emocional,
ele se entrelaça com a estruturação psíquica, emocional, cognitiva e social. Se pensarmos no período entre 0 e 24
meses o brincar é fundamental, pois o jogo será a própria atividade da criança pequena.
Pensar o brincar é pensar a construção de um sujeito humano que vai organizar sua relação com os objetos
através da relação com o Outro primordial, a mãe. A interação entre mãe e bebê é fundamental, pois dá origem a
uma relação especial e única, para toda a vida, como o primeiro e mais forte objeto de amor e como protótipo de
todas as futuras relações.
No que se refere à psicanálise, a mãe ou pessoa cuidadora, é um elemento de significação máxima, que
permitirá a entrada deste bebê no mundo do Outro, fonte do simbólico, e logo suporte da possibilidade de
simbolizar, utilizando signos e ações no lugar de marcas psíquicas inconscientes. Sabe-se que é a partir dos
desejos maternos depositados sobre o bebê, sobre seu corpo, através de toques, do olhar e brincadeiras
significantes que se dará a total estruturação psíquica. Assim o que acontecer nesta relação, dos 0 aos 24 meses,
será crucial para toda vida do sujeito.
Portanto, para que uma criança se constitua relativamente bem, é necessário que brinque simbolicamente. O
brincar é um sintoma constituinte na infância, é uma resposta da criança à estrutura. É a forma que a criança tem de
começar a tecer ativamente uma rede singular de representações a partir daquilo que a marcou. Deste modo, já há
ali um sujeito que começa a produzir suas respostas singulares diante da estrutura. Trata-se de um sujeito em
constituição, que ainda precisa ser sustentado pelo desejo e pela rede de representações do Outro encarnado pela
mãe.
Pode-se dizer, seguindo Winnicott (1975), que o brincar é universal, facilita o crescimento e, portanto, a
saúde, conduz a relacionamentos grupais, é uma forma de comunicação consigo mesmo e com os outros; tem um
lugar e um tempo muito especiais, não sendo algo só “de dentro”, “subjetivo interno”, ou só “de fora”, “objetivo
externo,”mas se constituindo justamente num espaço potencial entre o eu e o não eu, entre o mundo interno e o
externo, que justamente vão se formando, à medida em que o brincar se desenvolve, de forma criativa e original.
Ao pensar em brincar para a psicanálise, se faz necessário escrever a respeito do jogo do Fort-Da, neste,
Freud (1920}) proporciona um magnífico exemplo de metodologia de observação de um jogo. Nele aparece uma
nova dimensão no espaço: ao lançar o carretel lá, a criança simultaneamente define-se aqui, onde ela se encontra e
se situa em relação a um fora, que só existe como correlato de uma intenção agressiva que parte do aqui. Neste
artigo, Freud explicita que este é um jogo “primordial”, de conquista simbólica que marca o corpo da criança,
possibilitando-lhe representar a ausência na presença e a presença na ausência.Esta separação simbólica implica
certa agressividade para que possa ser aberto um novo espaço correspondente à tridimensionalidade ou, dito de
outro modo, um espaço de três dimensões, o que implica um corpo, um movimento, um mundo em três dimensões.
A partir deste brincar, uma série de transformações e diferenciações irão produzir-se no sujeito, por exemplo,
entre o eu/não eu, perto-longe, continente-conteúdo, interno-externo. A criança, através do brincar, começa a se
apropriar do corpo e, a partir dele, constituir-se como desejante. No momento em que, brincando, confirma a sua
unidade biológica, abrem-se os caminhos para a discriminação do interno e do externo e sua possível
reversibilidade, bem como para o estabelecimento de relações com o que é externo.Há uma passagem, então, a
partir da operação do Fort-Da: nesta, a criança passa do domínio imaginário do corpo ao exercício de um domínio
simbólico. Assim, o brincar é indício da constituição de um sujeito, momento mais lógico que cronológico, que, se
bem organizado no bebê, irá se repetir e servir de suporte ao simbólico em crianças de idade mais avançada.
No entendimento piagetiano, a construção das estruturas que permitem o desenvolvimento e a organização
do jogo, que é explicada por meio da estrutura da própria inteligência, é um processo contínuo que obedece a uma
ordem, uma seqüência de estágios. Assim sendo, as estruturas do jogo passam a ser observadas em uma das
etapas do desenvolvimento do período sensório motor. Nesta pesquisa nos detivemos ao jogo de exercícios
presente no período pesquisado. Para Piaget, os jogos de exercício constituem a primeira forma de jogo do ser
humano, assim a origem do jogo para este epistemólogo, está, no bebê, caracterizado pelos primeiros gestos e
ações que se repetem por prazer funcional.
Para falarmos em evolução do jogo na teoria piagetiana é necessário que se leve em consideração à
assimilação e a acomodação. Para Piaget (1978) o jogo é essencialmente assimilação predominando sobre a
acomodação. Piaget (1996), define assimilação como sendo “uma integração às estruturas prévias, que podem
permanecer invariáveis ou são mais ou menos modificadas por esta própria integração, mas sem descontinuidade
com o estado precedente, isto é, sem serem destruídas, mas simplesmente acomodando-se à nova situação”. (p.
13). Isso significa que a criança tenta continuamente adaptar os novos estímulos aos esquemas que ela possui até
aquele momento. Conforme Piaget (1978), a criança, por meio do brincar, assimila significantes e convive com
situações nas quais, de forma autônoma, pesquisa, deduz e conclui. Assim, a variável do processo passa a ser o
conteúdo que ela assimila, e este conteúdo pode ser direcionado para outras atividades.
Assim, no jogo de exercício sensório-motor, o objeto é simplesmente assimilado a um esquema conhecido e
anterior, sem nova acomodação nem antecipação acomodadora das seqüências anteriores. Neste sentido o jogo de
exercícios circunscreve-se à conduta lúdica, a busca de prazer na ação corporal. Não sendo exclusiva deste ou
daquele período, é mais evidente no período sensório-motor. Nesta categoria de jogo a finalidade é o “próprio prazer
de funcionamento”.
Através do brincar, a criança inicia o processo de auto conhecimento, da sua relação com o outro e com o
meio. Cria assim, relações necessárias para interagir com o mundo. O brinquedo torna-se um instrumento de
exploração e desenvolvimento de suas capacidades. A partir do exposto anteriormente, pode-se pensar que, para
compreender o jogo numa criança, há que se levar em conta estas duas vertentes teóricas, posto que, na sua
articulação, a partir de um olhar transdisciplinar, podemos ver surgir o sujeito infantil, com seus jogos, tomados tanto
do ponto de vista da estrutura psíquica, como cognitiva.
Metodologia

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sexta-feira, 28 de maio de 2010

O BRINCAR DO BEBÊ: UMA ARTICULAÇÃO ENTRE A PSICANÁLISE E A TEORIA PIAGETIANA

O brincar, sem sombra de dúvida é um fator determinante como subsídio para o desenvolvimento emocional,
ele se entrelaça com a estruturação psíquica, emocional, cognitiva e social. Se pensarmos no período entre 0 e 24
meses o brincar é fundamental, pois o jogo será a própria atividade da criança pequena.
Pensar o brincar é pensar a construção de um sujeito humano que vai organizar sua relação com os objetos
através da relação com o Outro primordial, a mãe. A interação entre mãe e bebê é fundamental, pois dá origem a
uma relação especial e única, para toda a vida, como o primeiro e mais forte objeto de amor e como protótipo de
todas as futuras relações.
No que se refere à psicanálise, a mãe ou pessoa cuidadora, é um elemento de significação máxima, que
permitirá a entrada deste bebê no mundo do Outro, fonte do simbólico, e logo suporte da possibilidade de
simbolizar, utilizando signos e ações no lugar de marcas psíquicas inconscientes. Sabe-se que é a partir dos
desejos maternos depositados sobre o bebê, sobre seu corpo, através de toques, do olhar e brincadeiras
significantes que se dará a total estruturação psíquica. Assim o que acontecer nesta relação, dos 0 aos 24 meses,
será crucial para toda vida do sujeito.
Portanto, para que uma criança se constitua relativamente bem, é necessário que brinque simbolicamente. O
brincar é um sintoma constituinte na infância, é uma resposta da criança à estrutura. É a forma que a criança tem de
começar a tecer ativamente uma rede singular de representações a partir daquilo que a marcou. Deste modo, já há
ali um sujeito que começa a produzir suas respostas singulares diante da estrutura. Trata-se de um sujeito em
constituição, que ainda precisa ser sustentado pelo desejo e pela rede de representações do Outro encarnado pela
mãe.
Pode-se dizer, seguindo Winnicott (1975), que o brincar é universal, facilita o crescimento e, portanto, a
saúde, conduz a relacionamentos grupais, é uma forma de comunicação consigo mesmo e com os outros; tem um
lugar e um tempo muito especiais, não sendo algo só “de dentro”, “subjetivo interno”, ou só “de fora”, “objetivo
externo,”mas se constituindo justamente num espaço potencial entre o eu e o não eu, entre o mundo interno e o
externo, que justamente vão se formando, à medida em que o brincar se desenvolve, de forma criativa e original.
Ao pensar em brincar para a psicanálise, se faz necessário escrever a respeito do jogo do Fort-Da, neste,
Freud (1920}) proporciona um magnífico exemplo de metodologia de observação de um jogo. Nele aparece uma
nova dimensão no espaço: ao lançar o carretel lá, a criança simultaneamente define-se aqui, onde ela se encontra e
se situa em relação a um fora, que só existe como correlato de uma intenção agressiva que parte do aqui. Neste
artigo, Freud explicita que este é um jogo “primordial”, de conquista simbólica que marca o corpo da criança,
possibilitando-lhe representar a ausência na presença e a presença na ausência.Esta separação simbólica implica
certa agressividade para que possa ser aberto um novo espaço correspondente à tridimensionalidade ou, dito de
outro modo, um espaço de três dimensões, o que implica um corpo, um movimento, um mundo em três dimensões.
A partir deste brincar, uma série de transformações e diferenciações irão produzir-se no sujeito, por exemplo,
entre o eu/não eu, perto-longe, continente-conteúdo, interno-externo. A criança, através do brincar, começa a se
apropriar do corpo e, a partir dele, constituir-se como desejante. No momento em que, brincando, confirma a sua
unidade biológica, abrem-se os caminhos para a discriminação do interno e do externo e sua possível
reversibilidade, bem como para o estabelecimento de relações com o que é externo.Há uma passagem, então, a
partir da operação do Fort-Da: nesta, a criança passa do domínio imaginário do corpo ao exercício de um domínio
simbólico. Assim, o brincar é indício da constituição de um sujeito, momento mais lógico que cronológico, que, se
bem organizado no bebê, irá se repetir e servir de suporte ao simbólico em crianças de idade mais avançada.
No entendimento piagetiano, a construção das estruturas que permitem o desenvolvimento e a organização
do jogo, que é explicada por meio da estrutura da própria inteligência, é um processo contínuo que obedece a uma
ordem, uma seqüência de estágios. Assim sendo, as estruturas do jogo passam a ser observadas em uma das
etapas do desenvolvimento do período sensório motor. Nesta pesquisa nos detivemos ao jogo de exercícios
presente no período pesquisado. Para Piaget, os jogos de exercício constituem a primeira forma de jogo do ser
humano, assim a origem do jogo para este epistemólogo, está, no bebê, caracterizado pelos primeiros gestos e
ações que se repetem por prazer funcional.
Para falarmos em evolução do jogo na teoria piagetiana é necessário que se leve em consideração à
assimilação e a acomodação. Para Piaget (1978) o jogo é essencialmente assimilação predominando sobre a
acomodação. Piaget (1996), define assimilação como sendo “uma integração às estruturas prévias, que podem
permanecer invariáveis ou são mais ou menos modificadas por esta própria integração, mas sem descontinuidade
com o estado precedente, isto é, sem serem destruídas, mas simplesmente acomodando-se à nova situação”. (p.
13). Isso significa que a criança tenta continuamente adaptar os novos estímulos aos esquemas que ela possui até
aquele momento. Conforme Piaget (1978), a criança, por meio do brincar, assimila significantes e convive com
situações nas quais, de forma autônoma, pesquisa, deduz e conclui. Assim, a variável do processo passa a ser o
conteúdo que ela assimila, e este conteúdo pode ser direcionado para outras atividades.
Assim, no jogo de exercício sensório-motor, o objeto é simplesmente assimilado a um esquema conhecido e
anterior, sem nova acomodação nem antecipação acomodadora das seqüências anteriores. Neste sentido o jogo de
exercícios circunscreve-se à conduta lúdica, a busca de prazer na ação corporal. Não sendo exclusiva deste ou
daquele período, é mais evidente no período sensório-motor. Nesta categoria de jogo a finalidade é o “próprio prazer
de funcionamento”.
Através do brincar, a criança inicia o processo de auto conhecimento, da sua relação com o outro e com o
meio. Cria assim, relações necessárias para interagir com o mundo. O brinquedo torna-se um instrumento de
exploração e desenvolvimento de suas capacidades. A partir do exposto anteriormente, pode-se pensar que, para
compreender o jogo numa criança, há que se levar em conta estas duas vertentes teóricas, posto que, na sua
articulação, a partir de um olhar transdisciplinar, podemos ver surgir o sujeito infantil, com seus jogos, tomados tanto
do ponto de vista da estrutura psíquica, como cognitiva.
Metodologia

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